segunda-feira, julho 11, 2016

Um Olhar sobre o Último Encontro de Ex-Alunos (25 e 26 de Junho)

Pediram-me um texto para enviar para o Mensageiro de Bragança, para cujo semanário diocesano já teriam enviado fotos do Encontro a condizer.
Na verdade, na terça-feira a seguir ao Encontro (28.06), enviei o texto, que passarei a publicar aqui, mas o Diretor de tal jornal respondeu, dizendo que uma Jornalista já tinha elaborado um texto com base em entrevistas a "vários" Ex-Alunos e que, por razões de proximidade de edição (quinta-feira, 30.06), avançaria com o texto dela. Na verdade, na edição que se indicava nada apareceu. Fiz notar a incoerência.
Na última edição do Mensageiro de Bragança, se se derem ao cuidado de verificá-la, apareceu o dito texto da Senhora Jornalista (http://www.mdb.pt/content/3584  - 07.07.2016). Digamos que, em nome dos nossos propósitos e olhares, um texto bastante lacónico, pobre e até enviesado.


Sendo assim, e contada a génese das considerações que precedem as minhas palavras, passarei a elas. E, na base da objetividade, vi assim o contexto e o próprio Encontro - sic:






Encontro de Ex-Alunos do Seminário: Revivência e Futuro

Sendo participante, pode sempre atribuir-se ao observador uma ponta de subjetividade no seu discurso, ou mesmo o enviesamento dos factos, trocando o essencial pelo secundário, ou a substância pelo acidente. Todavia, assumir-se-á rigorosamente o sentido da objetividade crítica, procurando a síntese e evitando a amálgama de síncreses ou a redundância conceptual.
Este Encontro de 2016, circunscrito aos dias 25 e 26 de Junho, tem que ser inserido num contexto de passado e de presente, para que possa augurar-se-lhe uma auspiciosa continuidade.
Antes de mais, trouxe uma grande inovação à dinâmica que vinha sendo seguida por dois grupos de Ex-Alunos do Seminário de Vinhais/Bragança. Em 1991, arrancara um movimento de Encontros anuais, que chegou a reunir, em anos de topo, e no Seminário de Vinhais, cerca de 130 a 140 Ex-Alunos, vindos de todo o distrito. Inclusivamente, dada a falta de espaços adequados, chegou a ter que se realizar o almoço em duas das arcadas do famoso Claustro desse inesquecível monumento.
No entanto, a erosão do tempo não perdoa e muitas pessoas deixaram de estar presentes, dada a sua saúde ou por ausência para outras paragens no país ou no estrangeiro. A linha evolutiva das presenças entrou mesmo em grande recessão, sobretudo a partir dos anos 2008 a 2011, anos em que, aproximadamente, afluíam aos Encontros, com certa flutuação, umas 35/45 pessoas, previsivelmente os fundadores e mais uns tantos que prezam e cultivam a fidelização.
Justamente a partir de 2011, quando D. José Cordeiro assume a orientação da Diocese (02.10.2011), o sentido da renovação dos Encontros voltou a equacionar-se e criou-se um espírito de coragem e força para a continuidade. De facto, com a presença de D. José no Encontro de 2012, respirou-se fundo e abriram-se asas para novos voos.
Surgiu, contudo, um fenómeno, até aí inexistente, que consistiu no dinamismo emergente de um outro grupo de Ex-Alunos, mais novos na frequência do Seminário, e que, à sua recente organização de uns anos antes, viram somada a presença, estimulante, sem dúvida, do Prelado da Diocese, também Ex-Aluno de época similar.
Coexistiram, assim, um Encontro mais antecipado, por Abril/Maio, dos mais novos, e um Encontro dos Ex-Alunos que vinham dos primórdios, sempre, ininterruptamente, celebrado no último fim de semana de Junho de cada ano.
Esta dualidade de participantes, com raízes institucionais idênticas, não podia continuar, sob pena de sugerir e talvez instigar ao antagonismo estéril. Moveram-se, então, esforços no sentido da conjugação e da convergência. A ideia foi colando, ultrapassaram-se pequenos diferendos, e hoje respira-se uma adesão francamente sadia e augurante de novos tempos, um corpo sólido em perspectivação de presenças e de futuro.
Enquadrado neste contexto, deu-se o Encontro de 25/26 de Junho. Sobre ele, dir-se-á que o movimento de Ex-Alunos, e relativamente à celebração realizada, esteve no caminho certo, com um primeiro dia, tarde de Sábado, no Seminário de Bragança, em que, apesar da coincidência com a vitória de Portugal sobre a Croácia, a motivação, a amizade demonstrada, os abraços estreitados, as rememorações aportadas, as estórias tecidas, em nada foram afetados. Talvez o atrativo do jogo, pelo qual as tendências hedonistas eram irresistíveis, tivesse desviado as manifestações de um sarau recreativo e musical, como soía fazer-se. Mas, fosse como fosse, houve satisfação, companheirismo, amizade, e a perceção generalizada de que foi grande este Sábado de integração, retorno e sublimação de espaços, tempos e aprendizagens.
Sabe-se que o número de padres atuais da Diocese é baixo e que os resistentes têm imensas tarefas a realizar, ora de natureza pastoral, as primeiras, ora de natureza social, um grande encargo. Mas, mesmo assim, poderia ter havido algum representante da Instituição-Seminário a dar as Boas-vindas ou uma, por simples que fosse, palavra de acolhimento. Sem ofensa nem ressentimento, tal ausência foi por todos sentida.
Passando ao dia 26 de Junho, 2.º dia do Encontro, em Vinhais, pode afirmar-se que encheu as medidas dos intervenientes. Simplesmente visto. Um regresso às raízes, notando-se Ex-Alunos totalmente extasiados na visita às instalações que, ainda crianças, os acolheram. A Igreja do Seminário, assim chamada entre os Ex, designada Igreja de N.ª S.ª da Encarnação, foi o espaço mágico que fez reviver as notas do Canto Gregoriano, desde o Kyrie ao Benedictus, desde o Agnus Dei ao incomparável Sanctissima. Ver adultos, fossem quais fossem as suas idades, voltar ao tempo de meninos, cantando com a elevação e a inocência de antanho, não é coisa de todos os dias. Provoca mesmo emoção nos mais fleumáticos!
O público também foi estimulante, quer pelo seu número, com Igreja cheia, quer pela participação e manifestação de são saudosismo. No final, rendidos ao sentimento da revivência de outra época, a sua época, os presentes vinhaenses irromperam numa significativa e simbólica salva de palmas, à qual, com um sorriso de orelha a orelha, os Ex-Alunos devolveram um grande OBRIGADO.
Finda a Celebração Eucarística, passou-se ao interior das arcadas do imponente Claustro, pisaram-se as lajes que o tempo não roeu, e observou-se, com alguma constrição, a secura de um jardim que já o foi, mesmo que matizado pelos arbustos verdejantes das divisórias ou pelo saltitar de alguns peixes no fontanário central. Em contrapartida, a alegria do grupo, bem numeroso, diga-se, ultrapassou o cenário de quase abandono, e para isso contribuiu a recheada mesa de aperitivos, no próprio Claustro, antecipação do almoço, já próximo.
Quem quis pôde também visitar o Museu de Arte Sacra, contíguo à Igreja da Encarnação, onde podem contemplar-se autênticas preciosidades sete e oitocentistas, a par de objetos sagrados e crónicas de eventos miraculosos na Capela da Senhora das Dores. Mais um dado cultural a somar a esta jornada, viabilizado pela C M de Vinhais, a par do seu apoio logístico para visitas no exterior.
O almoço valeu pela demonstração de grande coesão no Grupo de Ex-Alunos, aflorando a amizade sem reservas, a recordação de Ex-Alunos que já partiram, com especial menção para o saudoso, amigo, companheiro, confidente, Pe Telmo Baptista Afonso, e bem assim o Dr. Manuel Martins Lopes. Houve palavras, gestos, olhares, lembranças felizes ou menos boas, mas uma interrogação importante foi pensada e refletida nessa refeição de sabor português e gastronomia espanhola. E foi, precisamente, retirada de Blaise Pascal, a seguinte: - O que é o homem na natureza? Um nada em relação ao infinito, um tudo em relação ao nada, um ponto a meio entre o nada e o tudo”. Sim, os Ex-Alunos sentiram que desempenham esse papel de intermediários entre o nada e o tudo. Percepcionam-se como vindos de famílias humildes, genericamente verdade, mas conseguiram ascender socialmente ao que se propuseram, sempre conscientes de que no despontar das suas vidas estiveram os espaços, os tempos, os professores e, sobretudo, os amigos que se fizeram e nunca se perderam, alicerçados nesta instituição, o nosso Seminário de Vinhais, continuado em Bragança… Daí se partiu para o tudo! Para essa vontade de vencer, muito contribuíram as famílias de cada um, famílias que, neste Encontro, como noutros anteriores, primaram por significativa representatividade e adesão a esta causa, pelo que, para elas, aqui se deixa uma nota de apreço e louvor. Por sua vez, o sucesso do Encontro deve-se a uma organização planeada, basicamente da responsabilidade do Carlos Gonçalo e do André Afonso, a quem os Ex prestam o seu reconhecimento.
Por fim, sobreveio o final da 2.ª Jornada do Encontro, com alguns, em autocarro da C M Vinhais, a caminho do Parque Biológico, outros a antecipar o regresso a casa, mas todos, com evidente nó na garganta, a desejar-se um “Adeus, até pró Ano”!
Valeu a pena, sem reticências do passado ou do presente, e com olhos no futuro!


F. Cordeiro Alves - 27.06.2016

Ainda que não seja grande defensor, segui o Acordo Ortográfico, por enquanto vigente.

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