Pediram-me um texto para enviar para o Mensageiro de Bragança, para cujo semanário diocesano já teriam enviado fotos do Encontro a condizer.
Na verdade, na terça-feira a seguir ao Encontro (28.06), enviei o texto, que passarei a publicar aqui, mas o Diretor de tal jornal respondeu, dizendo que uma Jornalista já tinha elaborado um texto com base em entrevistas a "vários" Ex-Alunos e que, por razões de proximidade de edição (quinta-feira, 30.06), avançaria com o texto dela. Na verdade, na edição que se indicava nada apareceu. Fiz notar a incoerência.
Na última edição do Mensageiro de Bragança, se se derem ao cuidado de verificá-la, apareceu o dito texto da Senhora Jornalista (http://www.mdb.pt/content/3584 - 07.07.2016). Digamos que, em nome dos nossos propósitos e olhares, um texto bastante lacónico, pobre e até enviesado.
Sendo assim, e contada a génese das considerações que precedem as minhas palavras, passarei a elas. E, na base da objetividade, vi assim o contexto e o próprio Encontro - sic:
Encontro
de Ex-Alunos do Seminário: Revivência e Futuro
Sendo participante,
pode sempre atribuir-se ao observador uma ponta de subjetividade no seu
discurso, ou mesmo o enviesamento dos factos, trocando o essencial pelo
secundário, ou a substância pelo acidente. Todavia, assumir-se-á rigorosamente
o sentido da objetividade crítica, procurando a síntese e evitando a amálgama
de síncreses ou a redundância conceptual.
Este Encontro de
2016, circunscrito aos dias 25 e 26 de Junho, tem que ser inserido num contexto
de passado e de presente, para que possa augurar-se-lhe uma auspiciosa
continuidade.
Antes de mais, trouxe
uma grande inovação à dinâmica que vinha sendo seguida por dois grupos de Ex-Alunos
do Seminário de Vinhais/Bragança. Em 1991, arrancara um movimento de Encontros
anuais, que chegou a reunir, em anos de topo, e no Seminário de Vinhais, cerca
de 130 a 140 Ex-Alunos, vindos de todo o distrito. Inclusivamente, dada a falta
de espaços adequados, chegou a ter que se realizar o almoço em duas das arcadas
do famoso Claustro desse inesquecível monumento.
No entanto, a
erosão do tempo não perdoa e muitas pessoas deixaram de estar presentes, dada a
sua saúde ou por ausência para outras paragens no país ou no estrangeiro. A linha
evolutiva das presenças entrou mesmo em grande recessão, sobretudo a partir dos
anos 2008 a 2011, anos em que, aproximadamente, afluíam aos Encontros, com
certa flutuação, umas 35/45 pessoas, previsivelmente os fundadores e mais uns
tantos que prezam e cultivam a fidelização.
Justamente a partir
de 2011, quando D. José Cordeiro assume a orientação da Diocese (02.10.2011), o
sentido da renovação dos Encontros voltou a equacionar-se e criou-se um
espírito de coragem e força para a continuidade. De facto, com a presença de D.
José no Encontro de 2012, respirou-se fundo e abriram-se asas para novos voos.
Surgiu, contudo, um
fenómeno, até aí inexistente, que consistiu no dinamismo emergente de um outro
grupo de Ex-Alunos, mais novos na
frequência do Seminário, e que, à sua recente organização de uns anos antes,
viram somada a presença, estimulante, sem dúvida, do Prelado da Diocese, também
Ex-Aluno de época similar.
Coexistiram, assim,
um Encontro mais antecipado, por Abril/Maio, dos mais novos, e um Encontro dos Ex-Alunos que vinham dos primórdios, sempre,
ininterruptamente, celebrado no último fim de semana de Junho de cada ano.
Esta dualidade de participantes,
com raízes institucionais idênticas, não podia continuar, sob pena de sugerir e
talvez instigar ao antagonismo estéril. Moveram-se, então, esforços no sentido
da conjugação e da convergência. A ideia foi colando, ultrapassaram-se pequenos
diferendos, e hoje respira-se uma adesão francamente sadia e augurante de novos
tempos, um corpo sólido em perspectivação de presenças e de futuro.
Enquadrado neste
contexto, deu-se o Encontro de 25/26 de Junho. Sobre ele, dir-se-á que o
movimento de Ex-Alunos, e relativamente à celebração realizada, esteve no
caminho certo, com um primeiro dia, tarde de Sábado, no Seminário de Bragança,
em que, apesar da coincidência com a vitória de Portugal sobre a Croácia, a
motivação, a amizade demonstrada, os abraços estreitados, as rememorações
aportadas, as estórias tecidas, em
nada foram afetados. Talvez o atrativo do jogo, pelo qual as tendências
hedonistas eram irresistíveis, tivesse desviado as manifestações de um sarau
recreativo e musical, como soía fazer-se. Mas, fosse como fosse, houve
satisfação, companheirismo, amizade, e a perceção generalizada de que foi
grande este Sábado de integração, retorno e sublimação de espaços, tempos e
aprendizagens.
Sabe-se que o
número de padres atuais da Diocese é baixo e que os resistentes têm imensas
tarefas a realizar, ora de natureza pastoral, as primeiras, ora de natureza
social, um grande encargo. Mas, mesmo assim, poderia ter havido algum
representante da Instituição-Seminário a dar as Boas-vindas ou uma, por simples
que fosse, palavra de acolhimento. Sem ofensa nem ressentimento, tal ausência foi
por todos sentida.
Passando ao dia 26
de Junho, 2.º dia do Encontro, em Vinhais, pode afirmar-se que encheu as
medidas dos intervenientes. Simplesmente visto. Um regresso às raízes, notando-se
Ex-Alunos totalmente extasiados na visita às instalações que, ainda crianças,
os acolheram. A Igreja do Seminário,
assim chamada entre os Ex, designada Igreja de N.ª S.ª da Encarnação, foi o
espaço mágico que fez reviver as notas do Canto Gregoriano, desde o Kyrie ao Benedictus, desde o Agnus Dei
ao incomparável Sanctissima. Ver
adultos, fossem quais fossem as suas idades, voltar ao tempo de meninos,
cantando com a elevação e a inocência de antanho, não é coisa de todos os dias.
Provoca mesmo emoção nos mais fleumáticos!
O público também
foi estimulante, quer pelo seu número, com Igreja cheia, quer pela participação
e manifestação de são saudosismo. No final, rendidos ao sentimento da
revivência de outra época, a sua época, os presentes vinhaenses irromperam numa
significativa e simbólica salva de palmas, à qual, com um sorriso de orelha a
orelha, os Ex-Alunos devolveram um grande OBRIGADO.
Finda a Celebração
Eucarística, passou-se ao interior das arcadas do imponente Claustro,
pisaram-se as lajes que o tempo não roeu, e observou-se, com alguma constrição,
a secura de um jardim que já o foi, mesmo que matizado pelos arbustos
verdejantes das divisórias ou pelo saltitar de alguns peixes no fontanário
central. Em contrapartida, a alegria do grupo, bem numeroso, diga-se,
ultrapassou o cenário de quase abandono, e para isso contribuiu a recheada mesa
de aperitivos, no próprio Claustro, antecipação do almoço, já próximo.
Quem quis pôde
também visitar o Museu de Arte Sacra, contíguo à Igreja da Encarnação, onde
podem contemplar-se autênticas preciosidades sete e oitocentistas, a par de
objetos sagrados e crónicas de eventos miraculosos na Capela da Senhora das
Dores. Mais um dado cultural a somar a esta jornada, viabilizado pela C M de
Vinhais, a par do seu apoio logístico para visitas no exterior.
O almoço valeu pela
demonstração de grande coesão no Grupo de Ex-Alunos, aflorando a amizade sem reservas,
a recordação de Ex-Alunos que já partiram, com especial menção para o saudoso,
amigo, companheiro, confidente, Pe Telmo Baptista Afonso, e bem assim o Dr.
Manuel Martins Lopes. Houve palavras, gestos, olhares, lembranças felizes ou
menos boas, mas uma interrogação importante foi pensada e refletida nessa
refeição de sabor português e gastronomia espanhola. E foi, precisamente,
retirada de Blaise Pascal, a seguinte: - “O que é o homem
na natureza? Um nada em relação ao infinito, um tudo em relação ao nada, um
ponto a meio entre o nada e o tudo”. Sim, os Ex-Alunos
sentiram que desempenham esse papel de intermediários entre o nada e o tudo.
Percepcionam-se como vindos de famílias humildes, genericamente verdade, mas
conseguiram ascender socialmente ao que se propuseram, sempre conscientes de
que no despontar das suas vidas estiveram os espaços, os tempos, os professores
e, sobretudo, os amigos que se fizeram e nunca se perderam, alicerçados nesta
instituição, o nosso Seminário de Vinhais, continuado em Bragança… Daí se
partiu para o tudo! Para essa vontade de vencer, muito contribuíram as famílias
de cada um, famílias que, neste Encontro, como noutros anteriores, primaram por
significativa representatividade e adesão a esta causa, pelo que, para elas,
aqui se deixa uma nota de apreço e louvor. Por sua vez, o sucesso do Encontro
deve-se a uma organização planeada, basicamente da responsabilidade do Carlos
Gonçalo e do André Afonso, a quem os Ex prestam o seu reconhecimento.
Por
fim, sobreveio o final da 2.ª Jornada do Encontro, com alguns, em autocarro da
C M Vinhais, a caminho do Parque Biológico, outros a antecipar o regresso a
casa, mas todos, com
evidente nó na garganta, a desejar-se um “Adeus,
até pró Ano”!
Valeu a pena, sem
reticências do passado ou do presente, e com olhos no futuro!
F.
Cordeiro Alves - 27.06.2016
Ainda que não seja grande defensor, segui o Acordo Ortográfico, por enquanto vigente.