segunda-feira, maio 24, 2010

Pedem para publicar... Missão ingrata, mas que fazer?


O grande amigo Manuel Gouveia telefonou pelas 16.00 horas, há, aproximadamente, 1 hora e meia, para informar de que tinha enviado um E-mail. E, claro, este chegou! É mesmo de se lhe tirar o chapéu...

Como os gostos do M. Gouveia valem por ordens, aqui fica o registo, não sem antes agradecer, publicamente, o gesto e a honra concedida:


"Meu caro Cordeiro Alves:
Os melhores cumprimentos.
Aqui lhe mando, como prometi, a minha leitura, decerto muito apressada, sobre o seu encantador livro, de cujo valor só me apercebi, depois de prometer a mim mesmo que havia de fazer dele uma leitura.
Não pela leitura mas pelo testemunho que o livro constitui, gostaria que este apontamento fosse postado no nosso Blog.
Um dia destes mando-lhe o relatório sobre o nosso encontro do ano passado, o que não será mais do que aquilo que o Cordeiro Alves e o Virgílio já disseram. Mas eu tenho de cumprir as minhas obrigações.

Renovo os melhores cumprimentos.
Um abraço do
Manuel Gouveia"


Segue, então, o Post postíssimo do nosso amigo signatário:


"Vozes emersas de tempos e de espaços em Vinhais, de F. Cordeiro Alves

A minha leitura

Para quem não esteve presente no lançamento do livro Vozes emersas de tempos e de espaços em Vinhais do nosso colega Cordeiro Alves acho por bem informar que o mesmo teve lugar no nosso encontro de 2009, com breves palavras introdutórias do abaixo assinado Manuel Gouveia e a apresentação da responsabilidade do Dr. Roberto, em representação do Presidente da Câmara Municipal de Vinhais, Dr. Américo Pereira, que assinou a Nota Introdutória.

Dedicado a “todos os Ex-Alunos, que, desde há duas décadas, vêm rumando a estas inesquecíveis paragens para o (re)encontro com as raízes dos seus sonhos …”, divide-se o livro em três partes fundamentais: “Pré-leitura”, Comunicações e “Recordando a véspera e o ingresso”.

Na “Pré-leitura”, o autor depois de nos informar de que forma surgiu este livro, faz ressaltar “o especial relevo à amizade, ao companheirismo, à potenciação profissional que esta Grande Obra do Seminário nos viabilizou”. Lembra os Amigos que não podem estar fisicamente presentes e ainda os que faleceram, salientando para com todos uma “atitude de solidariedade”.
Aberta a “mala de recordações”, a construção foi tomando forma, alicerçada sobretudo num “plano de simbolismos”.
Ao denominá-lo de “projecto inter-Amigos”, não deixa de fazer um apelo para que surjam “outras publicações do género”, acabando por augurar à “família de Ex-Alunos […] toda a realização pessoal, êxito familiar e sucesso profissional”.
Quase tudo se passa nos e sobre os encontros no Seminário de S. José de Vinhais.

As Comunicações assumem a forma de poesia ou de prosa, dividindo-se, por sua vez: dirigidas aos colegas, durante os encontros; publicadas no Mensageiro de Bragança; nas Bodas de Diamante do Seminário de S. José de Bragança; ao “Ex-Aluno João Conceição Costa”.
Temas como: o claustro, o salão de estudo, o refeitório, as pedras da calçada e os símbolos remetem-nos para recordações vivenciais, tendo como suporte, cada uma delas, um ou outro local referenciado, emoldurados com aquele símbolo – o número pelo qual passávamos, muitas vezes, a ser conhecidos e que nos acompanhava em todos aqueles locais.

E, então, não posso deixar de referir, por exemplo, “o claustro da amizade” a oferecer “um muro, um abrigo, uma esquina”, no montar dos caloiros, com o “cesto do pão e queijo americano” e a água da torneira a saciar a “estranha e subtil mágoa”; o árduo trabalho no salão de estudo, onde “os nossos rumos começaram”, salão “que a todos potenciou”, que perante dificuldades, torcia “para o nosso lado” como “uma compreensiva e meiga mãe”, o salão da “inesquecível carteira desdobrável”, para o qual o nosso reconhecimento pode ser traduzido numa “prece fervorosa” a Deus; o leitor, “a oração inicial”, os chícharos – “os heróis da lenda”, “fosfórico-tonificantes” - , e o deo gratias, a par de um verdadeiro apetite sequente à “anxiógena fome”, “frente aos talheres de alumínio amolgado”, partilhando “os ruins e os bons momentos”, tudo naquele “monacal refeitório”; o permanente incentivo das “pedras da calçada”, de cada uma registado como se elas falassem, percorridas como “um transeunte, em diáspora constante” e “agora amarradas com liga de cimento”; e sem querer entrar na polémica dos símbolos e do significado, todos estes lugares percorridos pelo 150, o mesmo que também dava pelo nome de Cordeiro Alves.
Já o Rescaldo de ENCONTROS de ex-Alunos e Mais um encontro de ex-Alunos …, em forma de crónicas no Mensageiro de Bragança, nos remetem para outras reflexões. A primeira crónica, atravessada por quatro “iniludíveis sentimentos”, como o saudosismo, o “sentimento do outro”, a contingência e o futurismo, aponta-nos para um passado em que “os valores prevaleciam sobre a subversão dos mesmos”; para o “assalto de curiosidade pelo bem-estar dos antigos colegas” e “a satisfação pelo seu sucesso”; para a preocupação pelo “imponente imóvel” que é o Seminário de S. José de Vinhais, em degradação “cada vez mais acentuada”; e, finalmente, para que destino a dar “a este cinzelante monumento das nossas vidas”, chamando aqui o importante papel que uma Associação dos ex-Alunos poderia ter, relevando, ao mesmo tempo, o esquecimento do País perante a “incomensurável oferta” que esta Casa lhe deu, ao lançar para a rede social, conforme Ao salão de estudo de incontáveis rumos de vida … : empresários, funcionários públicos, funcionários dos bancos e seguros, psicólogos, investigadores, políticos, escritores, jornalistas, académicos, juristas, professores, médicos e magistrados, todos “que lá se fizeram gente”.
A segunda crónica refere-se aos encontros como “uma ritualidade assumida e ansiosamente esperada ”, carregados de emoções e de “expressões hilariantes que abraçam o passado e demandam o futuro de tantos projectos pessoais”; e da vibração “até ao âmago” com os depoimentos, o refazer do “filme pessoal […]”, e a recordação do toque da “cabra”. É o darmo-nos um pouco aos “cantos e recantos” que nos foram tão familiares e deles bebermos a força que nos anima a prosseguir.
A finalizar, informa sobre a existência do nosso Blog, onde todos “podemos fazer ouvir a nossa voz”.

Depois, As encruzilhadas, Do para quê ao quando, Lonjura, Quem somos? e Um périplo de 50 anos, em primeira pessoa … aparecem como temas decerto fundados em situações vividas, funcionando como reflexão cujo fio condutor não se afasta muito do caminho em que, como os demais colegas, o autor, quase sem se dar conta, se viu envolvido, primeiro pelo chamamento – simbolizado pela parábola do jovem rico -; depois nas dúvidas, no despertar para o mundo e nas dificuldades a ultrapassar, representadas pela “cabalística suma”; a seguir, no problema da lonjura que impede de se alcançar o téminus da caminhada, por muito que se queira, a não ser pela força estimulante vinda “do nosso conventual casarão”; envolvido ainda numa paragem dessa caminhada para responder à questão – Quem somos? – e admitir que, sendo “netos do iluminismo, filhos do modernismo, irmãos da pós-modernidade e primos das hodiernas convulsões sociais”, a melhor resposta lhe veio de um Ex-aluno, ao revelar-lhe que “todas as pessoas olham para nós como cidadãos honestos, trabalhadores e confiáveis”; terminando no revelar dessa caminhada que, desde 1958 a 2008, o fez passar pelo Seminário e cidades europeias, onde absorveu cultura e cumpriu a sua obrigação profissional, enquanto diz rememorar factos e ouvir histórias, e – parece-me! – acabando por encontrar o términus desta sua caminhada, ao afirmar que “não mais pude conter a sede de aqui regressar, desde 98, Junho, tal é a força e a atracção que aqui me galvanizam, anualmente!”.

Muito interessante a comunicação nas Bodas de Diamante do Seminário de S. José de Bragança, desenvolvendo o tema “ser seminarista” desde os anos 30 até hoje, subdividido em três etapas, das quais, “foi testemunha, por suporte e implementação, a instituição que hoje celebra as suas Bodas de Diamante”.
A comunicação desenvolve quatro vectores […] “da influência desta indelével e destacável instituição sobre as nossas vidas”, a saber: “formação, informação, axiologia, dimensão sociológica”, testemunhando, no final, o seu profundo reconhecimento e o dos seus Colegas Ex-seminaristas “ao Seminário de S. José de Bragança por aquilo que conseguimos ser e somos, por tudo o que nos foi possível assumir e defender no percurso existencial, quer como católicos conscientes, quer como cidadãos pautados pelo humanismo, pelo sentido crítico-cognitivista e pela verticalidade ética”.

Por fim, a “carta” ao ex-Aluno, Companheiro e “secular amigo” João Conceição Costa releva o seu recente contacto com o Seminário e os Companheiros “das nossas actuais revisitas às raízes”, e identifica-o como exemplo de atenção e de solidariedade, de amizade e de admiração, enquanto não deixa de o convidar a, “caso as forças o permitam e fazemos votos por tal, no próximo Encontro 2009, […] [vir] reunir-se connosco”.
Referindo-se à “continuidade do nosso MOVIMENTO de Amigos do Seminário de Vinhais”, informa que, no dia desta comunicação, 29 de Junho de 2008, o seu caso foi apresentado “como um marco paradigmático excepcional no contexto desta inefável tarefa de construção de homens” e termina com um “sincero BEM-HAJA pelas palavras identitárias e amigas”, manifestado por “ todos, em uníssono”.

Quero agora trazer aqui a tão significativa e emocionante recordação d’a véspera e o ingresso. E, se me permite o meu caro Cordeiro Alves, quero fazê-lo, enquanto vou revendo também a minha véspera e o meu ingresso no Seminário de Vinhais, uns anos mais cedo, em 1953. Ao mesmo tempo, atrevo-me a convidar todos os que fizerem o favor de me ler a voltarem a esse seu tempo com o carinho, a simplicidade, a amizade, a compreensão e a beleza com que o faz este colega.
Elegante testemunho relativo, como disse, ao dia que antecedeu e o primeiro da entrada para o Seminário, até acordar no dia seguinte.
Iniciou-se a jornada da véspera em Santulhão, numa manhã de “chuva miudinha”, a cavalo numa égua, na companhia do pai, para apanhar a furgoneta de caixa aberta que vinha da Matela. Após três horas de viagem sobre as tábuas da caixa, debaixo de parte do guarda-chuva de um companheiro de viagem e tentado a surripiar uns bagos “de uvas formosas e de rei”, que também ali viajavam mas dentro de um cesto, chegou a Bragança, onde pessoa amiga o recebeu, o levou para casa e lhe serviu o almoço que ele não estava disposto a aceitar – não porque não tivesse vontade de comer mas porque lhe causavam atrapalhação os talheres com que se viu confrontado. E aí lhe surgiu a primeira dúvida em relação à vida no Seminário, pelo facto de ter de comer com o garfo na mão esquerda: “Será que vai haver muitas coisas ao avesso?”
Após um jantar com “outro ritual angustiante”, foi uma noite agitada, mal dormida, para nova surpresa ao pequeno almoço com a manteiga e o bijú.
Depois, foi o seguir para a camioneta, junto à estação, onde encontrou os futuros colegas e “um Senhor padre, alto, de batina e chapéu de aba virada”, que dava ordens aos rapazes “de fato e boina pretos” para entrarem numa ou noutra camioneta – a mocha ou a canhona.
A viagem foi-se arrastando por hora e meia, sem grandes momentos a registar, a não ser a surpresa, quando, em Castrelos, aconteceu o episódio da “casa dos cantonêros!”.
Chegada a Vinhais: a longa escadaria, as botas novas, o saco e a mala a atrapalharem. Depois, foi a estranheza acontecida no “hall de recepção”, quando “um Senhor Padre” que dava as boas-vindas o chamou pelo nome! E até sabia que vinha de Santulhão!
Já nos claustros, um outro Senhor Padre lhe indicou o caminho da camarata e “exclamava”, como aos demais, para fazer a caminha. Resolvido o problema da cama com a ajuda de um colega já experiente, foi a vez dos recreios - o de baixo e o de cima -, da percepção da “abundante corrente de água” que desempapava “o pão com queijo amarelo”, do “montar caloiros”, da iniciação aos gambuzinos, do primeiro contacto com a cabra e a fila para o refeitório.
E no refeitório, com a fome que tinha, voou a “sopa de couves-galegas” e voaram os “chícharos com couves […] e postas de bacalhau”, apesar de secos, parecendo não lidarem muito bem com o azeite que, na sua terra, não lhe faltava.
Do refeitório para a capela, onde conheceu outro Senhor Padre, este “com voz de quem apanha pardais”, que lhes dava bons conselhos e apelava para “as regras da boa educação”.
Rezada a oração da noite, foi a hora de deitar e mais uma surpresa antecedida de uma ordem: “Tirar as calças dentro da cama!”. Ora, manobrar para tirar as calças dentro da cama foi uma boa razão para a cama cair. Tudo recomposto, passou-se a noite “de um só sono”, até ao acordar com a cabra a estalar “por todos os lados”.
E foram então: o levantar “meio assarapantado num mundo que se abatera sobre mim, quase como um trovão imprevisto”, os lavatórios e a aprendizagem “com os outros” para uma vida cheia de rituais de uma cultura que haviam de prolongar-se e fazê-lo “emergir para o saber, para os valores, para a vida”.

Resta-me agradecer ao Cordeiro Alves o ter-me proporcionado falar sobre estas lembranças, tendo-me eu feito, entretanto, um companheiro de viagem - uma viagem que começou naqueles afastados anos e que, pelos vistos, ainda não terminou.

Parada, 24 de Maio de 2010
Manuel António Gouveia"
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Mais uma vez, além do obrigado primeiro, apresentamos um segundo e testemunhamos que o Gouveia é um leitor fiel e crítico apurado, facetas que exigem imedíveis Parabéns!
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Mais outra coisa: O ENCONTRO DOS EX-ALUNOS deste ano de 2010 continua a ser em VINHAIS, precisamente no ÚLTIMO FIM DE SEMANA DE JUNHO!

1 comentário:

Francisco Frazao Calejo disse...

Lá estaremos.Contem com mais alguns,dos anos 78/79/80.É com grande prazer,que todos os seminaristas têm e se orgulham de ter sido simarista em Vinhais.Este ano será diferente,nós mais novos vamos vos fazer compainhia,obrigado
Francisco Frazão Calejo Pires